O mito chinês do arqueiro e os dez sóis




Para lá do horizonte dos mares orientais, numa primavera bem quente, havia uma gigantesca amoreira cujos galhos alcançavam o céu. Os humanos chamava-lhe Fu Sang e em seus galhos habitavam os dez filhos de Di Jun, deus do céu do oriente, bem como a sua noiva Xi He. Os seus filhos eram os sóis e revezavam-se na tarefa de percorrer o céu, trazendo luz, calor e vida para a terra. Todas as manhãs um dos sóis saia em sua jornada solitária, percorrendo todo o firmamento até que a noite caísse e o outro dia chegasse, transferindo a tarefa para o sol seguinte.
Enquanto um atravessava os outros nove permaneciam nos galhos de Fu Sang, sendo terminantemente proibido percorrerem o trajeto de outro forma que não fosse um de cada vez. E assim foi por milhares de anos.

Certo dia, cansados daquela rotina que se repetia dia após dia, o sóis resolveram fazer algo diferente e depois de uma longa reunião decidiram partir juntos em suas jornadas. Todos os dez sóis, juntos, atravessaram o firmamento.
A alegria do povo foi grande, um dia brilhante, quente e cheio de luz, mas não tardou para que a felicidade se transformasse em dor, pois dez sóis implicavam em dez vezes mais luz e dez vezes mais calo. As plantações murcharam, o solo secou, as rochas derreteram, os rios evaporaram e o povo pereceu. 

Di Jun e Xi he vendo o transtorno que os filhos estavam causando pediram para que eles retornassem a amoreira, mas eles haviam provado a liberdade e não queriam voltar. Impotente, Di Jun pediu a Yi, o arqueiro, que agisse de alguma forma evitando ainda mais mortes. 


Yi agiu então, apanhou sua aljava e dentro dela haviam dez flechas, uma para cada sol, e começou a dispará-las. Quando a primeira flecha acertou o primeiro sol, fez-se ouvir uma enorme explosão. Milhares de fagulhas se espalharam pelo céu enquanto uma coisa caio na direção da terra. Aqueles que tiveram coragem e foram ver do que se tratava, encontraram um corvo de três olhos com uma seta transpassada no peito. Era o espírito do sol.

Yi continuou e quando em sua aljava so restavam duas flechas, bem como dois sois no céu, Yao, o imperador, se lembrou que sem nenhum sol não haveria luz, apenas a escuridão reinaria sobre a terra. Então, com muita agilidade e rapidez, apanhou uma das flechas e a escondeu em suas vestes. Quando Yi atirou a nona flecha, procurou pela décima e não encontrou o que o fez julgar terminado o seu trabalho, deixando nove corvos mortos sobre a terra e um sol vivo no céu. 

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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