Fecharei agora os olhos, tamparei meus ouvidos, desviar-me-ei de todos os meus sentidos, apagarei mesmo de meu pensamento todas as imagens de coisas corporais, ou, ao menos, uma vez que mal se pode fazê-lo, reputá-las-ei como vãs e como falsas; e assim, entretendo-me apenas comigo mesmo e considerando meu interior, empreenderei tornar-me pouco a pouco mais conhecido e mais familiar a mim mesmo. Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina o que sente. Pois, assim como notei acima, conquanto as coisas que sinto e imagino não sejam talvez absolutamente nada fora de mim e nelas mesmas, estou, entretanto, certo de que essas maneiras de pensar, que chamo sentimentos e imaginações somente na medida em que são maneiras de pensar, residem e se encontram certamente em mim. E neste pouco que acabo de dizer creio ter relatado tudo o que sei verdadeiramente, ou, pelo menos, tudo o que até aqui notei que sabia.
(Discurso do Método- Segunda Parte)
Nascido em 1596, Renê Descartes (ou Renatus Cartesius) foi um dos grandes físicos, matemáticos e filósofos da sua época. Fundador do método cartesiano e da fusão entre a álgebra e a geometria, apesar de racionalista, elaborou e expôs um dos métodos que considero como extremamente importante para o desenvolvimento do pensar individual. Trata-se de um método denominado Ceticismo Metodólógico, extremamente expresso em sua obra Discurso do Método ( O qual considero de extremo pesar que não esteja inserido no plano de estudos das escolas do nosso país)
O Ceticismo Metodológico consiste, basicamente, em não aceitar como verdadeiras e incontestáveis as conhecidas "verdades prontas", ou seja: aquelas que nos foram transmitidas como certas mas que não foram testadas como tal e portanto, passíveis de dúvidas.
Talvez, explicando a grosso modo, fique um pouco complicado compreender a lógica de Descartes, mas em suma, o que ele vivia dizendo era que não devemos simplesmente aceitar as coisas como verdades incontestáveis, sem que antes as submetamos a prova e obtenhamos nossos resultados próprios. Não adianta que todos digam que é verdade, que é assim que as coisas funcionam, eu preciso testar, ter certeza por mim mesmo, e só então poderei dar aquilo como certo também.
É Descartes o autor da máxima Penso, Logo existo!, pois em suas meditações metafísicas, esta foi a primeira verdade que ele teve como certa através do raciocínio próprio, seguido de outras conclusões as quais chegou através do seu método.