A Via Lactea, Vega e Altair no mito chinês de Niulang e Zhinü.


Os apreciadores do céu noturno com certeza apreciam também as histórias que ele conta, esta é apenas mais uma das milhares e milhares de histórias que colocamos no firmamento.

Ha muito, muito tempo atrás, em um vale distante viviam um homem chamado Niulang. Pouco afeito ao contato humano ele vivia afastado de tudo, tendo como companhia apenas um velho búfalo.
Niulang vivia tão afastado do mundo e das pessoas que com o passar do tempo aprendeu a se comunicar com o velho búfalo, com quem tinha longas e prazerosas conversas.
Todos os dias, na companhia de seu amigo, Niulang saia para pastorear suas ovelhas, voltando para casa apenas quando o Sol se punha. Certo dia, um acontecimento curioso perturbou a sua rotina, ao voltar para casa, em lugar da costumeira bagunça, Niulang encontrou tudo em ordem, roupas limpas e comida pronta.
Surpreso com o fato, Niulang questionou a seu amigo o que poderia ter acontecido e o búfalo lhe respondeu que provavelmente teria sido algum viajante que passara pela casa e resolvera arrumá-la. Embora a resposta fosse razoável, ambos sabiam que tal coisa era muito difícil, mas era o único palpite que tinham.
No dia seguinte, Niulang partiu novamente e mais uma vez, ao retornar, encontrou a casa arrumada. Se um viajante ja era bastante improvável, o que dizer então de dois? Pensou.
Depois de pensar um pouco o búfalo teve uma ideia e resolveu contá-la a Niulang. Seguindo as instruções do velho amigo, no dia seguinte, muito antes do horário habitual Niulang retornou para sua casa e se escondeu nos arbustos mais próximos. Ficou ali esperando para ver quem era a pessoa que todos os dias arrumava a sua casa.
Não demorou muito e a figura de uma bela mulher entrar furtivamente em sua casa e fazer aquilo que fazia todos os dias; arrumar.
Confuso, Niulang surpreendeu a mulher e questionou-a sobre suas intenções. A moça, visivelmente envergonhada, disse que o vira levando uma vida solitária e difícil e por isso resolveu ajudá-lo, disse também que se chamava Zhinü (a tecelã) e terminou a frase com o mais belo sorriso que Niulang havia visto em toda a sua vida.
Terrivelmente apaixonado Niulang aceitou a ajuda da moça e depois de algum tempo a pediu em casamento. Eles tiveram dois lindos filhos e viveram felizes por bastante tempo, Niulang cultivando a terra e pastoreando e Zhinu teando.
A vida foi seguindo assim, leve e harmoniosa como tem de ser, até que em um dia nublado e cheio de vento, dois generais celestes vieram até a casa dos dois. Eles haviam ido buscar Zhinü, que não era uma mera tecelã, mas sim a filha da imperatriz e do imperador celeste que por amor a um mortal (Niulang) havia fugido do seu verdadeiro lar.
Os generais partiram e levaram consigo o grande de amor de Niulang, deixando-o com seus filhos e o velho amigo búfalo. Triste e abatido, Niulang foi adoecendo, perdeu o gosto pela vida e já não se levantava mais da cama. Desolado com a situação do velho amigo, o búfalo falou com Niulang oferecendo-lhe uma solução; Niulang deveria sacrificá-lo e usar sua pele para construir um balão com o qual ele chegaria até o palácio celestial. Ele relutou, mas não havia outra saída e no fim teve que aceitar a oferta do grande amigo.
Niulang pegou seus dois filhos e subiu até o palácio celestial, encontrou sua amada e a beijou como se fosse novamente a primeira vez. Quando o beijo finalmente acabou, o casal apaixonado viu que o imperador e a imperatriz os assistia com ar gelado. Neste momento, a imperatriz mãe do Céu tirou do cabelo um adorno de prata e traçou com este uma linha entre o casal. Logo surgiu um grande rio que Niulang não conseguiu atravessar. Tamanho foi o sofrimento de ambos, Zhinü de um lado e Niulang e seus dois filhos do outro.
Penalizado com a dor da filha, o imperador concedeu que uma vez no ano eles se encontrassem para matar a saudade. Ele transformou Zhinü e Niulang em estrelas (Vega e Altair, respectivamente) e permitiu que todos os anos, em um dia do mês de Junho, eles se encontrassem através de uma ponte formada pelos pássaros celestiais que ligavam as duas margens do grande rio prateado (a Via Lactea).



Escritora, fotógrafa e naturalista.

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