A solidão



A solidão é um estado de espírito que pode se dar e ser percebido de diversas formas. Não se dá necessariamente na ausência do outro, às vezes ela ocorre mesmo quando se está rodeado de pessoas. Para alguns é uma cruz dolorosa, ao passo que pra outros é um momento necessário, um suspiro em meio a sufoco.

Fernando Pessoa diz que se te é impossível viver só, nasceste escravo, ao passo que Sartre completava com a afirmativa de que o inferno são os outros. Mas até que ponto a solidão nos é favorável ou não?

Eu poderia começar dizendo algo sobre o mundo de hoje ou a sociedade atual e blá, blá, blá... mas isso seria quase uma falácia, pois apesar das inegáveis mudanças que emprestaram a nossa sociedade uma estrutura ímpar, não se pode negar também que mesmo com o decurso dos séculos os seres humanos sempre sofreram de praticamente os mesmos males, vestidos em novas roupagens.

A questão da solidão é, sem sombra de dúvidas, uma das sombras mais antigas do homem, pois desde o neolítico os indivíduos da nossa espécie se descobriram como social. Aos solitários e exilado os perigos da vida selvagem onde a ausência de um grupo era fator determinando para a continuidade da sua linhagem. O solitário morria e seus genes não seriam passado adiante.

Nós somos os filhos daqueles que se uniram e conseguiram conviver em grupo, somos a descendência dos que deram início ao que se chama de sociedade. Por isso não há nada mais natural que o temor a solidão, um medo ancestral do isolamento, do exílio.

Contudo, não se deixe enganar, pois ha muito a solidão foi generalizada e desde que se descobriu que explorar os medos do homem é uma forma eficaz de mover a esmagadora roda da indústria, a solidão passou a ser vendida como um monstro cruel, cujo lado positivo é sempre ocultado.

No tuntz tuntz da balada, no riso solto entre amigos ou no brilho pálido da tv não se tem apenas diversão, mas também fuga, pois com o tempo nossa sociedade passou a acreditar que só podemos ser se estivermos sob a vista de alguém. Não estou dizendo que tais coisas devem ser evitadas, longe de mim a hipocrisia, pois eu mesma sou uma grande apreciadora de todas elas. Mas observe que toda a natureza tende ao equilíbrio, pois toda luz intensa projeta também uma grande sombra e os momentos de solidão, desde que se transformem em um muro intransponível entre você e os outros, deve ser sim administrado em doses contínuas.

Estar na companhia de si mesmo é para muitos assustador, pois é no silêncio de nós mesmos que observamos nossas sombras, sombras estas que não deveriam ser negadas, mas sim analisadas e compreendidas. Fugir dos nossos defeitos e das pequenas coisas que desagradam a nós mesmos, não é ser feliz, é ser tolo acreditando que é possível passar a vida toda fingindo para si mesmo. Mas acredite, você pode fugir de qualquer coisa nesse mundo, exceto de si mesmo, pois sua consciência jamais lhe permitirá um único segundo de solidão.

Mas e quanto àqueles que são solitários por não serem aceitos em determinado círculo ou se sentem pouco à vontade em meio a algumas pessoas? Estes estão condenados?
Ora, acredita mesmo que em uma sociedade formada por sete bilhões de pessoas, não haja lugar para você? Quem lhe dá a condenação se não você mesmo que se acredita condenado?
E quanto ao que não se sente a vontade na companhia dos outros não deve haver então motivo de queixa, pois não há obrigação nenhuma além daquelas que você se impôs.

O que não podemos é abandonar o equilibrio e não será nas páginas de um blog ou em uma pesquisa no google que você o encontrará. Para isso é necessário antes uma análise de si mesmo, um momento de solidão para analisar o que o incomoda a ponto de buscar fora de si uma resposta.


Por Jamile Cesar

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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