Forças femininas

 Meu primeiro contato com a ideia de divindade feminina foi através da religião católica. Apesar da pouca identificação com a Virgem Maria (Nunca me vi como uma mulher de ar sereno e atitude passiva), estive bastante tempo em contato com o perfil mariano.
 Depois deste longo período dentro do catolicismo comecei a conhecer o candomblé, que apesar de nunca ter sido minha religião de referência, acabou me ensinando muitas coisas ao longo do tempo. Quem nasce em Salvador, dificilmente, passará por toda a vida sem ter algum contato com essa religião de matriz africana .
 No candomblé, diferente do catolicismo, existem diversas divindades femininas que carregam as mais variadas características. Dentre todas elas me identifiquei com a figura de Iemanjá, que mesclava a mulher, a esposa, a mãe...
Não sou uma grande conhecedora desta religião, mas o pouco que aprendi na convivência com os que professavam essa fé, foi o suficiente para me encantar com esta figura feminina. Não posso negar a influência que o mar sempre exerceu sobre mim, não como uma entidade de vida própria, mas como uma parte da natureza que sempre me fascinou. Sempre comparei a minha personalidade a figura do mar; horas calmo e tranquilo, horas tempestivo e furioso... Logo, foi impossível pra mim, não identificar-me com a figura da mulher que residia nas profundezas do mar azul e que emprestava a sua morada as características da sua personalidade, transformando-os na mesma força.
 Depois de conhecer as divindades católicas e africanas, foi a vez de conhecer a que talvez seja a mais antiga de todas as divindades femininas que se tem relatos, a Deusa da mitologia céltica. Chamadas por muitos nomes, a deusa era simplesmente a Deusa; o princípio vivo da natureza ou o que hoje conhecemos como Mãe Natureza. De todas as divindades femininas, esta talvez seja a que menos conheço, mas é a que mais se aproxima da mulher em sua essência mais básica. Ela era mãe, amante, filha, amiga, guerreira... era as várias faces daquilo que realmente somos. (Como não se identificar também?)
 Assim, apesar de nascer e viver em uma sociedade paternalista, que contribui para a formação do pensamento machista, não há como não admitir a beleza das nuances da natureza feminina, e não me sentir orgulhosa por isso. E mais inevitável ainda para mim, é  negar a compreensão da influencia dos arquétipos femininos na formação da psiquê humana de modo geral.

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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