O curioso rito de passagem de uma tribo em Papua Nova Guiné.



O rito de passagem para a idade adulta executado pelos homens da tribo Kaningara em Papua Nova Guiné, em um primeiro momento pode nos parecer incompreensível e demasiado brutal, mas uma observação um pouco mais acurada, feita através daquilo que ouso chamar de "empatia antropológica" (quando nos colocamos no lugar de um membro daquela tribo e tentamos observar o mundo a partir do seu prisma), revela que por trás da aparente atraso, há uma boa dose de conhecimento que é transmitido de geração em geração através da tradição ritualística.



Este é o caso do rito de passagem da tribo Kaningara, onde meninos com idade entre quinze e dezoito anos se submetem a uma série de procedimentos ritualísticos que visam transformá-los em homens adultos.
Praticamente isolados em uma região afastada de Papua Nova Guiné banhada pelo rio Sepik (habitat de muitos crocodilos), os Kaningara possuem a crença de serem descendentes do crocodilo ancestral e por isso, para se tornar homem é necessário trazer na pele as marcas de sua descendência.

Como funciona o ritual?

O ritual dura vários dias, primeiro os meninos aguardam do lado de fora de um grande cercado de palhas e folhas de palmeiras que delimita o espaço entre o resto da aldeia e a casa dos homens, que é o local onde só é permitida a entrada dos iniciados. Enquanto aguardam, os homens agitam as folhas, fazem barulhos estranhos e batem com força no chão para imitar o barulho de um grande crocodilo. Esta atitude dos homens do lado de dentro tem como objetivo aumentar o medo dos garotos que não sabem o que vão encontrar do outro lado. O pajé da tribo explica:

 Antes de se tornar um homem eles precisam conhecer o medo.

Depois de um certo tempo, os garotos que estão sempre acompanhados de seus tios já iniciados, são
orientados por eles a investir contra a parede de folhas, abrindo caminho para adentrar a parte externa da casa dos homens. Enquanto fazem isso os homens lá dentro revidam utilizando pedaços de pau e lanças feitas a partir da vara de bambu. As estocadas são fortes e podem chegar a machucar de verdade, mas os garotos persistem e por fim acabam entrando. Sobre isso o pajé explica:

Antes de se tornar um homem eles precisam ser reduzidos a nada.


Uma vez dentro do cercado, os garoto precisam combatar seus tios, que lutará com eles. A luta, desta

vez, não será de verdade tendendo mais ao simbolismo. Sobre isso o pajé explica:

Antes de se tornar uma homem eles precisam aprender a reconhecer os seus.



Depois disso os rapazes recebem uma folha que serve como uma espécie de anestésico, com a ajuda dos tios eles recebem os primeiro cortes em volta dos mamilos. São cortes circulares, feitos pelas mãos precisas dos já iniciados.  Em seguida é hora de deitar de bruços e receber os cortes nas costas, um procedimento que dura entre duas e duas horas e meia. A dor é intensa e muitos choram copiosamente, mas ainda assim persistem. Sobre isso o pajé explica:

Antes de se tornar homem é preciso chorar, quando eles choram eles ficam fortes. 
Quando os cortes finalmente chegam ao fim, os antigos garotos e agora homens, recebem uma grossa camada de óleo de coco sobre o corpo (a fim de ajudar na cicatrização), se alimentam e recebem os cuidados dos tios até que estejam inteiramente curados e liberados para voltar a suas casas.










Escritora, fotógrafa e naturalista.

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