De onde vem a preocupação com a moralidade sexual?



Embora seja exaustivamente discutida, a sexualidade humana continua sendo um tabu, vivemos em um mundo onde a liberdade sexual ganhou espaço enquanto no sentido oposto vemos uma onda crescente de proselitismo e conservadorismo.
Mas, de onde vem essa preocupação exagerada com a conduta sexual?
Para entender melhor o assunto, disponibilizamos alguns trechos do artigo Sexualidade e preconceito, do Doutor em psicologia e psicanálise, Paulo Roberto Ceccarelli.

Embora as bases dos valores ético-morais de nossa cultura encontre suas raízes na tradição judaico-cristã, seria injusto atribuir ao Cristianismo o ascetismo em relação aos prazeres: o Cristianismo apenas preservou um legado que hostilizava o prazer e o corpo. Tal legado pessimista, que devia-se sobretudo a considerações médicas, tem suas origens na Antiguidade. Pitágoras recomendava que as relações sexuais ocorressem de preferência no inverno, embora o fazer sexo fosse prejudicial em todas as estações do ano. Hipócrates considerava que reter o sêmem proporcionava ao corpo a máxima energia; a sua perda, a morte. Segundo Sarano de Éfaso, médico pessoal do Imperador Adriano, o ato sexual só se justificava para a procriação. 

Esta visão redutora do sexo foi, sem dúvida, intensificada por uma das maiores escolas da filosofia antiga – o estoicismo – cuja grande influência se deu entre 300aC a 250d.C. Toda importância que, de maneira geral, os filósofos gregos reservavam à busca do prazer, foi radicalmente transformada por esta corrente de pensamento que passou a concentrar a sexualidade no casamento. Este torna-se uma concessão àqueles que não podiam abster-se de relações sexuais; “... uma permissão para a satisfação da luxúria ou do prazer para aqueles que os consideravam indispensáveis”. Mais tarde, entretanto, o próprio casamento passa a ser questionado ao colocar-se a questão do prazer carnal no ato conjugal. Uma das mais fortes conseqüências disto foi a valorização do celibato. 

O negativismo em relação ao prazer sexual foi característica marcante do estoicismo nos dois primeiros séculos depois de Cristo e teve profunda influência no Cristianismo por meio dos grandes padres da Igreja – Agostinho, Jerônimo e Tomas de Aquino. O sexo é então vinculado à finalidade procriativa tendo como exemplo os animais, caso contrário trará o “estigma negativo do prazer”. Vemos aí emergir uma forma de moralidade que é essencialmente moralidade sexual. 


Leia o artigo na íntegra aqui.

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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