A pergunta

 "De que vale o eterno criar, se a criação em nada acabar?"
(Goethe)

 Durante boa parte da minha vida carreguei esta mesma pergunta no fundo do meu âmago. Sempre foi difícil para mim acreditar que a vida declina para o fim e o fim é, simplismente, o fim mesmo. 
 Por mais redundante que isso possa parecer, talvez seja a única forma de explicar o sentimento que, as vezes, tenho com relação a existência e que, de tempos em tempos, se sobrepuja a todas as explicações espiritualizadas ou crsitianizadas da mesma.
 Sempre imaginei que seria impossível viver acreditando que nascemos, conhecemos a aurora da existência e depois desaparecemos em meio ao nada de onde viemos, levando conosco todos os nossos sonhos, percepções, ideias e etc. Por isso sempre me apeguei a crença platônica de que existe algo além de tudo isso que podemos ver, e que é justamente esse "outro lado" oculto, o nosso destino no além túmulo. Imaginei que Deus não teria sido tão injusto ao ponto de nos tirar do nada para experimentar, por um breve momento, (pois o que sao os anos diante da imensidão do universo?) a luz da vida e depois nos deixasse mergulhar outra vez na escuridão da inexistência. Mas aí eu aprendi a questionar. E quando aprendi a questionar, aprendi a duvidar. 
E muitas vezes eu duvido...  E quando duvido, algumas coisas ficam claras, mas outras passam a ser extremamente complicadas. Um homicídio deixa de ser um homicídio e passa a ser um atentado, hediondo e irreparável, a existência humana. A pobreza que cerca as pessoas, deixa de ser só uma mazela social, consequencia do nosso sistema econômico, e ganha contornos muito mais profundos e revoltantes. O amor, deixa de ser um sentimento eterno e nobre, passando a ser  apenas, uma ferramenta inteligente do instinto de preservação da espécie. E Deus? Ah Esse deixa de existir, ou passa a ser apenas um força da natureza, sem caráter teológico.
 Ao longo da existência humana, muitos filósofos chamaram atenção para o fato de que a história da humanidade parece seguir um curso lógico. Desde os primórdios vamos crescendo e avançando em direção ao progresso e toda a nossa história parece se desenrolar em uma escala, assustadoramente, ascendente. Mas seria possível que este curso, fosse apenas obra do acaso, iniciado em uma sopa orgânica a milhões e milhões de anos atrás? Humm.. Não sei! Mas acho pouco provável. E neste momento passo a duvidar de tudo outra vez e prefiro voltar a acreditar que Deus existe, e é Ele quem guia o curso da nossa história, pois precisamos continuar acreditando que existe algo mais, pois é isto que torna a existência mais colorida e as perdas menos dolorosas.  E embora dentro de muitos, como eu, existam duas forças opostas (o ceticismo e a fé) que combatem entre sí , vamos continuar lutando e mantendo a mente aberta para o fato de que existem muitas coisas além daquilo que os olhos podem ver e a ciência pode provar.



Por Jamile Leidiane

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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