A confortável penumbra da ignorancia- Sócrates


A morte de Sócrates- Por Jacques-Louis David


Conhece-te a ti mesmo, um jeito de filosofar; a máxima do conhecimento de si era uma das inscrições que adornavam o templo de Apolo, em Delphos, na Grécia antiga. Foi ali que Querofonte, um dos discípulos de Sócrates, formulou a questão que daria origem a um jeito de filosofar. Perguntou à sacerdotisa quem era, afinal, o homem mais sábio. A resposta do famoso oráculo de Delphos foi precisa; Sócrates. Não tardou e a notícia chegou a ele.
Incrédulo, Sócrates passou a procurar por alguém a quem realmente fosse digno o título. Por toda a Grécia democrática, sob a qual Atenas vivia sua fase de ouro militar e cultural, figuras como grandes heróis, políticos e militares foram questionados por Sócrates sobre o que guiava suas ações.
Quando falava com sacerdotes, queria saber o que era piedade. Quando falava com militares, queria saber o que era coragem. Quando falava com um político, queria saber o que era a justiça.. E assim por diante, um a um, nenhum deles sabia responder de forma precisa.
 Todos estes homens sabiam muito bem o que faziam, como faziam e quando faziam, mas nenhum deles sabia por que fazia. Apesar de conhecer a arte da guerra, o general não sabia dizer com segurança o que era a coragem em si. Sabia guerrear, é verdade, mas não sabia definir a coragem em sua forma mais pura.
Sócrates refutou os sábios, e o fez tão arduamente que, por fim acabou convencendo-os de sua ignorância. Levou-os a uma estado de exaustão onde foram obrigados a reconhecer que viviam sem saber, mas achavam que sabiam.
Sócrates chegou a conclusão de que os homens eram ignorantes duas vezes. Vivendo sem saber das coisas e ignorantes do não saber. Tal fato deixava clara uma grande necessidade; a necessidade de livrar-se da segunda ignorância, saber que nada sabia.
 E desta forma, revestindo-se da missão de iluminar os ignorantes, Sócrates parte desejoso de transformar a sociedade a sua volta, afastando-a um pouco mais da escuridão. Mas a missão foi uma missão ingrata, pois cada vez que a luz brilhava, incomodava os olhos daqueles que viviam acostumados a escuridão, tirando-os da confortável zona penumbral para lança-los a luz do auto conhecimento. Ainda assim Sócrates seguiu sua missão até a morte, quando o desconforto venceu a virtude e aqueles que julgavam ser a penumbra mais confortável, trataram de condená-lo a morte.



Adaptado da revista Filosofia (2012, edição 71)

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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