O Sequestro da subjetividade- Por Pe Fabio de Melo




Há prisões que são mais que paredes e celas. Há prisões que não são concretas, e por isso não há nada que possa concretamente ser quebrado.
No sequestro do corpo há um cativeiro localizado que precisa ser aberto. Já no sequestro da subjetividade os cativeiros não possuem localização para que possamos chegar pela força de nossos pés. Trata-se de uma prisão mais sutil, mas nem por isso menos cruel.
 É importante termos claro que o sequestro do corpo é uma realidade menos comum, mas o sequestro da subjetividade é um fenômeno que há todo momento acontece em nosso meio: ou porque estamos presenciando alguém sendo levado de si, ou porque estamos sequestrando, ou sendo sequestrados.
O que podemos perceber é que a estrutura social em que estamos situados é fortemente marcada pelas relações que sequestram. É sequestro da subjetividade tudo aquilo que nos priva de nós mesmos. Até mesmo nas pequenas realidades, as mais simples, há sempre o risco de que estejamos abrindo mão de nossos valores em detrimento da vontade de sequestradores que em nada estão comprometidos com nossa realização humana
É sequestro da subjetividade todo o processo que neutraliza e impede o ser humano de conhecer-se, passando a assumir uma postura ditada por outros.
É sequestro da subjetividade a projeção da vida humana em metas inalcançáveis, costurada à mentalidade de que as pessoas são perfeitas e que há sempre um final feliz reservado, pronto para chover do céu sobre nossas cabeças. Mas é também sequestro da subjetividade a projeção da vida humana a partir de metas rasas, em que a mediocridade é a regra a ser considerada e o pessimismo antropológico é a consequência.
[...]
É sequestro da subjetividade cada vez que o coletivo prevalece sobre o particular, massacrando-o em vez de incorporá-lo como parte irrenunciável. Mas é também sequestro da subjetividade cada vez que o sujeito é valorizado em detrimento de uma multidão que perde a voz para que ele possa gritar sozinho.
É sequestro da subjetividade quando alguém, no exercício de imaginar, projeta o outro como personagem, e com ele estabelece uma relação baseada na falsidade que despersonaliza e aprisiona. Jura a promessa de um amor eterno que se desdobra em cruel forma de prisão.


Do livro Quem me roubou de mim?- Pe Fabio de Melo 

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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