No universo das possibilidades (E se não estou mais aqui?)



O texto que vos escrevo nas próximas linhas pode não conter uma essência que se assemelhe aos demais conteúdos que normalmente publico neste espaço, mas como levanta questões metafísicas interessantes a cerca daquilo que chamamos realidade, não me isentarei de publicá-lo.
Quem sabe, estas linhas que contém questionamentos tão particulares mas ao mesmo tempo tão coletivos, sirvam, pelo menos, ao propósito de mostrar a quem porventura também seja acometido por tais indagações, que não se encontram tão sozinhos assim.





Ha alguns meses atrás viajei para Salvador a fim de rever a minha família. Fui acompanhada do meu marido que, diga-se de passagem, tem pavor a altura e obviamente não é muito fã das viagens de avião. Eu mesma também não sou uma grande admiradora desse meio de transporte, mas ainda assim me sentia menos insegura que ele.
Como é possível perceber olhando o mapa do Brasil, de Porto Alegre para Salvador existe uma considerável distância, o que faz com que a viagem normalmente seja dividida em duas partes (uma conexão no Rio ou em São Paulo), e nesta ocasião em especial, o voo sairia de Porto Alegre para São Paulo e de lá para Salvador 
A conexão em São Paulo foi bem curta, só dando tempo de desembarcar e embarcar novamente. O segundo voo também decolou tranquilo, e desta vez já mais cansado e provavelmente sem animo para a angustia, meu marido também demonstrava mais tranquilidade. 
Quando enfim o comandante anunciou o pouso no aeroporto  internacional Luis Eduardo Magalhães, aquela velha sensação de alívio se instalou amplamente em nosso corações. Ele por estar pousando e eu por enfim poder matar a saudade da minha família. (e por estar pousando também). 
Chovia, mas quando o avião desceu e saiu do alcance das nuvens, viu-se um espetáculo de luzes (era noite) e eu reconhecia cada pedacinho da cidade que aparecia em minha janela. Numa felicidade sem tamanho.
Quando enfim o avião se aproximou da pista e iniciou o pouso, um tombo acompanhado de um estrondo sacudiu todo o avião. Não tive tempo de pensar e comecei a rezar (eu rezando? A coisa tem que estar bem feia mesmo) O avião arremeteu e depois de alguns minutos o comandante informou que uma rajada de vento havia atrapalhado o pouso. 
Na segunda tentativa o pouso ocorreu de forma tranquila, mas eu não era mais a mesma pessoa. 
Eu vi a minha família, matei a saudade, contei as novidades e depois de um mês, como estava previsto, voltei para o Rio Grande do Sul. Mas desde então não sou mais a mesma. Desde então um fantasma quântico me assombra; E se eu morri naquele acidente? E se aquela que viu os parentes, matou a saudade e contou as novidades não era mais a mesma que entrou naquele voo saindo de São Paulo com destino a Salvador? E se aquilo que eu vivi foi uma ilusão mental criada a partir de uma extrema expectativa que havia se formado dentro de mim? (Afinal, a meses eu planejava e ansiava por esta viagem). E se todo esse mundo em que eu vivo agora for uma projeção mental? 
Me preocupa saber que a minha avó, com quem eu falo todos os dias pelo telefone, estaria (em outra realidade) chorando a minha morte. Os noticiários que vejo na tv e na internet todos os dias, omitem um certo acidente aéreo que aconteceu no aeroporto de Salvador ha poucos meses. E a vida que vivo agora é uma outra vida, uma vida diferente, mas ainda assim muito semelhante a vida anterior. 




Nota: A luz da racionalidade tudo isto que vou narrar pode denunciar uma certa esquizofrenia paranoide misturada a excesso de admiração por teorias de universos paralelos e física quântica. Mas até mesmo eu, que muitas vezes sou dominada pelo extremo ceticismo, não posso me convencer totalmente (pela falta de provas que demonstrem o contrário) da possibilidade de que tais eventos sejam tão inverossímeis assim.

Ats Jamile Leidiane (Mural Filosófico)

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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