Da perceção- Fragmento do livro O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder




Certa manhã, o pai, a mãe e o pequeno Tomás, que tem dois ou três anos, estão
sentados na cozinha durante o café-da-manhã. De repente, a mãe levanta-se e vira-se para o
lava-louça: nesse preciso momento, o pai começa a voar em direção ao teto, enquanto
Tomás observa.
O que te parece que Tomás diz? Provavelmente, aponta para o pai e diz: - O pai
voa!
Certamente que Tomás ficaria admirado. Mas o pai faz coisas tão estranhas que
um pequeno vôo acima da mesa já não tem importância aos seus olhos. Todos os dias faz a
barba com uma máquina engraçada, por vezes sobe ao telhado para orientar a antena da
televisão - ou enfia a cabeça junto ao motor do carro e aparece depois todo negro.
Depois, é a vez da mãe.
Ela ouviu o que Tomás disse e volta-se rapidamente. Como achas que reagirá
vendo o marido a esvoaçar sobre a mesa da cozinha?
O frasco da marmelada cai-lhe imediatamente da mão, começará a gritar de medo.
Talvez tenha de ir ao médico, mesmo depois de o pai se ter sentado de novo na
cadeira. (Ele já devia ter aprendido há muito tempo como se comportar à mesa!).
Porque é que Tomás e a mãe reagem de forma tão diferente? É uma questão de
hábito.
A mãe aprendeu que os homens não podem voar. Tomás não.
Ainda não distingue o que é possível do que não é.
Mas o que dizer do mundo, Sofia? Achas que o mundo é possível? O mundo também está
suspenso no espaço.

Escritora, fotógrafa e naturalista.

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